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Testes de velocidade não funcionam bem para corredores amadores

É comum vermos corredores realizando testes de velocidade em diferentes momentos da temporada, seja no início, meio ou fim. Testes como os de 1 milha, 2400m ou 3000m são amplamente utilizados para medir desempenho. Eu mesmo já prescrevi e acompanhei esses testes na teoria e na prática. No entanto, afirmo com convicção: a maioria dos corredores amadores não precisa - e nem deveria - realizá-los.


Por que a 040 não realiza testes de desempenho?

Desde o início da 040, em 2020, evitamos a realização desses testes. No entanto, com o crescimento da corrida de rua, a popularização do Strava, Instagram, blogs e outras mídias, temos recebido cada vez mais questionamentos sobre essa decisão. Para esclarecer, conversamos com nossa equipe técnica, composta por 10 profissionais altamente qualificados, incluindo campeões de maratonas e ultramaratonas, corredores de curtas distâncias e especialistas em pista. Perguntei a eles se a 040 deveria adotar testes de desempenho e compartilho aqui algumas opiniões:


  • Caio Carvalho, campeão de provas de 3km, 5km e 10km: "Uma prova de 10K seria mais útil para quem vai correr meia maratona ou maratona. Medir a durabilidade em um teste de limiar faz mais sentido do que em testes curtos de 3K ou 5K, que focam mais em picos de velocidade."

  • Daiane Moreira, maratonista com RP de 2h54’20”: "Pode ser válido para um amador experiente que busca uma meta específica, como um sub-3 na maratona. O teste ajudaria a mostrar a ele os dados reais. Mas, para iniciantes, não vejo sentido, pois dificilmente conseguirão dar 100%."

  • Jeferson Lopes, atleta da Seleção Brasileira de SkyRunning e campeão da Maratona de Florianópolis 2022: "Concordo em manter a abordagem da 040. Testes são úteis para quem compete por performance. Prefiro usar as provas como parâmetro."


A grande questão: o corredor amador não dá 100% em um treino

Se eu tivesse que resumir tudo em uma frase, seria esta: testes de desempenho exigem 100% do atleta, e o corredor amador raramente consegue dar 100% em um treino.


Nas provas, esse esforço máximo acontece com muito mais facilidade, pois há uma preparação específica, a energia do ambiente, o incentivo do treinador e dos demais corredores. Já em um treino comum, diversos fatores podem comprometer o desempenho: uma noite mal dormida, alimentação inadequada, calor excessivo, frio intenso ou até mesmo um corredor na pista atrapalhando o ritmo. Além disso, se o atleta conta com um pacer para ajudá-lo, o teste já não é fidedigno.

Outro ponto essencial: em testes que duram mais de 6 minutos, o esforço se torna submáximo, pois há acúmulo de lactato, o que impacta diretamente na precisão dos resultados.


Mas a 040 não realiza testes?

Realizamos, sim. E muitos! A diferença é que nossos alunos, na maioria das vezes, nem percebem.

Os treinos de 400m, 800m, 1km e tempo run são, na prática, testes. Acompanhar a regularidade desses treinos nos permite ajustar os tempos para intervalados curtos (400m e 800m) e extensivos (acima de 800m). Além disso, as provas realizadas pelos alunos – seja de 3km, 5km, 10km, 21km ou 42km – são os melhores testes possíveis, pois refletem o desempenho real em condições ideais.


Para quem os testes tradicionais fazem sentido?

Acredito que esses testes podem ser úteis para amadores de alto rendimento, ou seja, corredores com tempos como:


  • 5K abaixo de 17 minutos;

  • 10K abaixo de 36 minutos;

  • 21K abaixo de 1h20;

  • Maratona abaixo de 2h50.


Esses atletas sabem administrar o sofrimento, entendem melhor os treinos e possuem uma consistência muito maior que a grande maioria dos corredores amadores.


Problemas dos testes de desempenho para assessorias esportivas

Se aplicássemos testes de desempenho para nossos alunos, o que provavelmente aconteceria?

  • Muitos tentariam "dar um migué" para não se esforçar ao máximo;

  • A maioria não sabe dar 100% em um treino;

  • Se correm em dupla ou grupo, o teste se torna inválido;

  • Fatores externos como calor, cansaço e estresse prejudicariam os resultados;

  • Um dia ruim comprometeria todos os cálculos de ritmo para os treinos seguintes;

  • O teste consumiria um treino da semana sem trazer benefícios reais.


Conclusão

As assessorias que realizam testes de desempenho o fazem porque, a partir dos resultados, conseguem prever os tempos dos alunos em diversas distâncias. Porém, se o aluno não estiver bem no dia do teste, seu ritmo ficará desajustado para todos os treinos seguintes. Ferramentas como planilhas prontas fazem esse cálculo automaticamente, mas isso não significa que o método seja eficaz para todos.


Na 040, preferimos utilizar os próprios treinos e provas dos alunos como testes reais, garantindo um planejamento mais preciso e individualizado.

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