Testes de velocidade não funcionam bem para corredores amadores
- Eduardo Caporal
- 3 de mar.
- 3 min de leitura
É comum vermos corredores realizando testes de velocidade em diferentes momentos da temporada, seja no início, meio ou fim. Testes como os de 1 milha, 2400m ou 3000m são amplamente utilizados para medir desempenho. Eu mesmo já prescrevi e acompanhei esses testes na teoria e na prática. No entanto, afirmo com convicção: a maioria dos corredores amadores não precisa - e nem deveria - realizá-los.
Por que a 040 não realiza testes de desempenho?
Desde o início da 040, em 2020, evitamos a realização desses testes. No entanto, com o crescimento da corrida de rua, a popularização do Strava, Instagram, blogs e outras mídias, temos recebido cada vez mais questionamentos sobre essa decisão. Para esclarecer, conversamos com nossa equipe técnica, composta por 10 profissionais altamente qualificados, incluindo campeões de maratonas e ultramaratonas, corredores de curtas distâncias e especialistas em pista. Perguntei a eles se a 040 deveria adotar testes de desempenho e compartilho aqui algumas opiniões:
Caio Carvalho, campeão de provas de 3km, 5km e 10km: "Uma prova de 10K seria mais útil para quem vai correr meia maratona ou maratona. Medir a durabilidade em um teste de limiar faz mais sentido do que em testes curtos de 3K ou 5K, que focam mais em picos de velocidade."
Daiane Moreira, maratonista com RP de 2h54’20”: "Pode ser válido para um amador experiente que busca uma meta específica, como um sub-3 na maratona. O teste ajudaria a mostrar a ele os dados reais. Mas, para iniciantes, não vejo sentido, pois dificilmente conseguirão dar 100%."
Jeferson Lopes, atleta da Seleção Brasileira de SkyRunning e campeão da Maratona de Florianópolis 2022: "Concordo em manter a abordagem da 040. Testes são úteis para quem compete por performance. Prefiro usar as provas como parâmetro."
A grande questão: o corredor amador não dá 100% em um treino
Se eu tivesse que resumir tudo em uma frase, seria esta: testes de desempenho exigem 100% do atleta, e o corredor amador raramente consegue dar 100% em um treino.
Nas provas, esse esforço máximo acontece com muito mais facilidade, pois há uma preparação específica, a energia do ambiente, o incentivo do treinador e dos demais corredores. Já em um treino comum, diversos fatores podem comprometer o desempenho: uma noite mal dormida, alimentação inadequada, calor excessivo, frio intenso ou até mesmo um corredor na pista atrapalhando o ritmo. Além disso, se o atleta conta com um pacer para ajudá-lo, o teste já não é fidedigno.
Outro ponto essencial: em testes que duram mais de 6 minutos, o esforço se torna submáximo, pois há acúmulo de lactato, o que impacta diretamente na precisão dos resultados.
Mas a 040 não realiza testes?
Realizamos, sim. E muitos! A diferença é que nossos alunos, na maioria das vezes, nem percebem.
Os treinos de 400m, 800m, 1km e tempo run são, na prática, testes. Acompanhar a regularidade desses treinos nos permite ajustar os tempos para intervalados curtos (400m e 800m) e extensivos (acima de 800m). Além disso, as provas realizadas pelos alunos – seja de 3km, 5km, 10km, 21km ou 42km – são os melhores testes possíveis, pois refletem o desempenho real em condições ideais.
Para quem os testes tradicionais fazem sentido?
Acredito que esses testes podem ser úteis para amadores de alto rendimento, ou seja, corredores com tempos como:
5K abaixo de 17 minutos;
10K abaixo de 36 minutos;
21K abaixo de 1h20;
Maratona abaixo de 2h50.
Esses atletas sabem administrar o sofrimento, entendem melhor os treinos e possuem uma consistência muito maior que a grande maioria dos corredores amadores.
Problemas dos testes de desempenho para assessorias esportivas
Se aplicássemos testes de desempenho para nossos alunos, o que provavelmente aconteceria?
Muitos tentariam "dar um migué" para não se esforçar ao máximo;
A maioria não sabe dar 100% em um treino;
Se correm em dupla ou grupo, o teste se torna inválido;
Fatores externos como calor, cansaço e estresse prejudicariam os resultados;
Um dia ruim comprometeria todos os cálculos de ritmo para os treinos seguintes;
O teste consumiria um treino da semana sem trazer benefícios reais.
Conclusão
As assessorias que realizam testes de desempenho o fazem porque, a partir dos resultados, conseguem prever os tempos dos alunos em diversas distâncias. Porém, se o aluno não estiver bem no dia do teste, seu ritmo ficará desajustado para todos os treinos seguintes. Ferramentas como planilhas prontas fazem esse cálculo automaticamente, mas isso não significa que o método seja eficaz para todos.
Na 040, preferimos utilizar os próprios treinos e provas dos alunos como testes reais, garantindo um planejamento mais preciso e individualizado.
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