Existe mesmo uma postura perfeita para correr – ou isso é só mais um mito?
- Ellen Parayba
- 6 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de mar.
Quantas vezes você já se perguntou se está correndo da forma certa? Basta uma rápida pesquisa na internet para se deparar com imagens de corredores com posturas impecáveis, pernas estendidas no ar e uma fluidez quase cinematográfica. Mas será que essa é a única forma correta de correr?
A verdade é que não existe uma fórmula única para a biomecânica da corrida. Cada corpo é único, com particularidades que fazem parte da nossa individualidade. O problema surge quando tentamos moldar nossa técnica a padrões que nem sempre fazem sentido para nossa estrutura física ou nível de condicionamento.
Mitos da mecânica da corrida
Existe uma postura ideal para todos
Se houvesse uma técnica universal, todos os corredores de elite correriam exatamente da mesma forma – e isso claramente não acontece. Basta assistir a uma prova para perceber que cada atleta tem um estilo próprio. O que realmente importa é a eficiência do movimento, ou seja, como o corpo se adapta para correr da maneira mais econômica e confortável possível.
Forçar uma postura que não é natural pode sobrecarregar músculos e articulações, aumentando o risco de lesões.
Pronação ou supinação são vilões
A crença de que pisar para dentro (pronação) ou para fora (supinação) causa lesões é muito difundida. No entanto, essas variações fazem parte da mecânica natural do corpo humano. Quando o pé cai levemente para dentro, está cumprindo sua função de absorver impacto e distribuir a carga. O mais importante é fortalecer a musculatura, melhorar a mobilidade e garantir que o corpo esteja preparado para o impacto – não tentar encaixar sua pisada em um padrão pré-definido. No entanto, se o seu padrão de movimento estiver exacerbado, causando dor ou desconforto, vale investigar se o calçado que você está utilizando pode estar acentuando esse movimento ou se há alguma deficiência de força que precisa ser corrigida. Nessas situações, ajustes específicos podem ser necessários para melhorar a eficiência e evitar lesões.
Braços parados economizam energia
Manter os braços rígidos durante a corrida compromete a eficiência do movimento. O balanço dos braços é fundamental para o equilíbrio e a propulsão. A orientação é deixá-los relaxados, permitindo que se movimentem naturalmente. Muitos acreditam que cruzar os braços à frente do corpo desperdiça energia, mas até recordistas mundiais, como Eliud Kipchoge e Mo Farah, apresentam esse tipo de movimento e continuam quebrando recordes. O que realmente importa é a naturalidade e a eficiência, não a estética.
Inclinar-se para frente melhora a corrida
Uma leve inclinação, natural, pode auxiliar na eficiência, mas forçar essa postura pode aumentar o impacto na pisada, sobrecarregando articulações. O mais importante é buscar uma postura confortável que permita o movimento natural do corpo.
Existe uma forma certa de aterrissar o pé
Cada corredor tem uma maneira natural de aterrissar – seja com o calcanhar, o meio do pé ou a ponta do pé. Alterar esse padrão pode ativar músculos que não estão condicionados para essa mudança, aumentando o risco de lesões. O foco deve estar no fortalecimento muscular e na preparação do corpo para absorver o impacto, não na tentativa de encaixar a passada em um modelo idealizado.
O que realmente importa
O impacto gerado a cada passada pode alcançar até três vezes o peso corporal, e o principal responsável por amortecer essa carga é o próprio corpo. O movimento natural, com aterrissagens suaves, é a melhor forma de proteger suas articulações. Quanto mais silenciosa sua corrida, mais eficiente ela tende a ser. Além disso, aterrissar com o pé mais próximo ao tronco, alinhado ao quadril, ajuda a diminuir a sobrecarga nas articulações e melhora a absorção de impacto.
O segredo para correr melhor não está em copiar padrões estéticos, mas em fortalecer, mobilizar e entender seu próprio corpo. Construir uma base sólida permite que a biomecânica se ajuste naturalmente com o tempo.
Cada corredor tem uma mecânica única – e aprender a respeitar essa individualidade é o que vai te levar mais longe, com mais saúde e menos lesões.
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